CARTA ENCÍCLICA LUMEN FIDEI
“A LUZ DA FÉ é o grande dom trazido por Jesus: Eu vim ao
mundo como luz, para que todo o que crê em Mim não fique nas trevas.” (Jo 12,46)
“A fé nasce do encontro com o Deus Vivo que nos chama e
revela seu amor...transformados por este amor recebemos olhos novos e
experimentamos que há nele uma grande promessa de plenitude e se nos abre a
visão do futuro...” (p.6)
“A fé é luz ...e nos leva a ultrapassar o nosso eu isolado
abrindo-o a amplitude da comunhão...”(p.7)
“A convicção de uma fé que faz grande e plena a vida,
centrada em Cristo e na força da sua graça, animava a missão dos primeiros
cristãos...”(p.8)
“(Na fé) reconhecemos um grande amor que nos foi
oferecido...e faz crescer em nós as asas da esperança para o percorrermos com
alegria...fé, esperança e caridade constituem uma interligação admirável, o
dinamismo da vida cristã...”(p. 9-10)
“A fé está ligada à escuta. Abraão não vê Deus, mas ouve sua
voz...a fé é a resposta a uma Palavra que interpela pessoalmente, a um Tu que
nos chama por nome.”(p.11)
“Esta Palavra comunica a Abraão um chamado e uma promessa. Um
chamado a sair da própria terra, convite a abrir-se a uma vida nova...que o
encaminha para um futuro inesperado...”(p.12)
“A Palavra de Deus, embora traga consigo novidade e
surpresa, não é de forma alguma alheia à experi~enci do patriarca. Uma voz que
lhe dirige, Abraão reconhece um apelo profundo, desde sempre inscrito no mais
íntimo de seu ser...”(p.13)
“O Deus criador, aquele que chama à existência o que
nãoexiste...é capaz de garantir a vida mesmo para além da morte...foi capaz de
suscitar um filho no corpo já sem vida como sem vida estava o seio de Sara
estéril, também será capaz de garantir a promessa de um futuro para além de
qualquer ameaça ou perigo....”(p.14)
“A luz da fé está ligada com a narração concreta da vida...é
capaz de iluminar o nosso caminho no tempo, recordando os benefícios divinos e
mostrando como se cumprem as suas promessas...” (p.15)
“A história de Israel mostra-nos a tentação da
incredulidade, em que o povo caiu várias vezes...”(p.15)
“O ídolo é um pretexto para se colocar a si mesmo no centro
da realidade...o homem dispersa-se na multiplicidade de seus desejos negando-se
a esperar o tempo da promessa...”(p.16)
“Acreditar significa confiar-se a um amor misericordioso que
sempre acolhe e perdoa, que sustenta e guia a existência...poderoso na sua
capacidade de endireitar os desvios da nossa história...”(p.17)
“Na fé de Israel sobressai-se a figura de Moisés, o
mediador...aqui a mediação não se torna um obstáculo, mas uma abertura: no
encontro com os outros, o olhar abre-se a uma verdade maior que nós mesmos....”(p.17)
“A fé ém um dom gratuito...é entregar-se para ver o caminho
luminoso do encontro entre Deus e os homens na história da salvação...os
patriarcas se salvaram pela fé em Cristo que havia de vir...”(p.18)
“A fé cristã é fé no Amor Pleno, capaz de transformar o
mundo e iluminar o tempo...”(p.19)
“Na contemplação da morte de Jesus que a fé se reforça e
recebe luz fulgurante, é quando de revela como fé no seu amor inabalável por
nós, que é capaz de penetrar a morte para nos salvar...”(p.20)
“Cristãos confessam o amor concreto e poderoso de Deus que
atua verdadeiramente na história e determina o seu destino final....”(p.21)
“A fé não olha só para Jesus, mas olha também a partir da
perspectiva de Jesus e com os seus olhos: é uma participação no seu modo de ver...”(p.22)
“A vida de Cristo, a sua maneira de conhecer o Pai, de viver
totalmente em relação com Ele, abre um novo espaço à experiência humana, e nós
podemos entrar nele...(p.22)
“Cremos a Jesus quando aceitamos a sua palavra, o seu
testemunho...cremos em Jesus
quando O acolhemos pessoalmente em nossa vida e nos confiamos a Ele...”(p.22)
“A fé cristã é fé na encarnação do Verbo e na sua
ressurreição na carne; é fé em um Deus que se fez tão próximo que entrou na
nossa história...”(p.23)
“Quando o homem pensa que afastando-se de Deus, encontrar-se
–a a si mesmo, a sua existência fracassa...O inicio da salvação é a abertura a
algo que nos antecede, a um dom originário que sustenta a vida e guarda sua
existência....”(p.24)
“Cristo desceu á terra e ressuscitou dos mortos: com sua encarnação
e ressurreição o Filho de Deus abraçou o percurso inteiro do homem...”(p.25)
“O crente é transformado pelo Amor ao qual se abriu na
fé...a sua existência dilata-se para além dele próprio...”(p.26)
“A figura de Cristo é o espelho...os cristãos sejam todos um
só sem perder sua individualidade, e no serviço aos outros cada um ganha
profundamente seu próprio ser...” (p.27)
“A fé torna-se operativa no cristão a partir do Amor que o
atrai para o Cristo e torna participante do caminho da Igreja, peregrina na
história rumo à perfeição...”(p.28)
(na passagem do profeta Isaías com o rei Acaz) “Apavorado
com a força dos seus inimigos, o rei busca a segurança que lhe pode vir de uma
aliança com o grande império da Assiria, mas o profeta convida-o a confiar
apenas na verdadeira rocha que não vacila: o Deus de Israel...”(p.29)
“Santo Agostinho nas suas Confissões, fala da verdade que se
pode confiar para conseguirmos ficar de pé...ele quer mostrar que esta verdade
fidedigna de Deus é, como resulta da Bíblia, a sua presença fiel ao longo da
história...”(p.30)
“A fé é capaz de oferecer uma luz nova porque vê mais longe,
compreende o agir de Deus que é fiel á sua aliança e às suas promessas...”(p.31)
“A busca da verdade visa a algo que nos precede e desta
forma pode conseguir unir-nos para além do nosso próprio eu pequeno e
limitado...”(p.32)
“A fé transforma a pessoa inteira precisamente à medida que
ela se abre ao amor...o grande amor de Deus nos transforma interiormente e nos
dá novos olhos para ver a realidade...”(p.33)
“O amor não pode reduzir-se a um sentimento que vai e
vem...o amor verdadeiro unifica todos os elementos de nossa personalidade e
torna-se uma luz nova que aponta para uma vida grande e plena...”(p.34)
“O próprio amor é um conhecimento, traz em si uma lógica
nova...”(p.35)
“O conhecimento da fé ilumina não só o caminho particular de
um povo, mas também o percurso inteiro do mundo...”(p.36)
“A fé é conhecimento que só se aprende em um percurso de
seguimento...”(p.37)
“A escuta da fé verifica-se segundo a forma de conhecimento
própria do amor, é uma escuta pessoal que
distingue e reconhece a voz do Bom Pastor, uma escuta que requer o seguimento...”(p.38)
“A fé aparece como um caminho do olhar em que os olhos se
habituam a ver em profundidade...”(p.39)
“A luz do amor nasce quando somos tocados no coração,
recebendo assim em nós, a presença interior do amado que nos permite reconhecer
o seu mistério...”(p.40)
“Tocar com o coração, isto é crer.” (p.41)
“A luz da fé ilumina todas as nossas relações humanas que
podem ser vividas em união com o amor e ternura de Cristo...”(p.42)
“Na experiência concreta de Santo Agostinho, o momento
decisivo no seu caminho de fé não foi uma visão de Deus mas a escuta...temos
aqui o Deus pessoal, capaz de falar ao homem, descer para viver com ele,
acompanhar o seu caminho na história...”(p.43)
“O desejo da visão do todo cumprir-se-a no fim, quando o
homem poderá ver e amar não por ser capaz de possuir a luz toda, mas por entrar
todo inteiro, na luz.” (p.44)
“A fé não é intransigente, mas cresce na convivência que
respeita o outro...longe de nos endurecer a segurança da fé põe-nos a caminho e
torna possível o testemunho e o diálogo com todos.”(p.45)
“O homem religioso procura reconhecer os sinais de Deus nas
experiências diárias de sua vida...”(p.46)
“A confissão de Jesus como único salvador, afirma que toda
luz de Deus se concentrou Nele, na sua vida luminosa em que se revela a origem
e consumação da história.”(p.47)
“Abraão antes de ouvir a voz de Deus já o procurava com
desejo ardente em seu coração e percorria todo o mundo perguntando-se onde
pudesse estar Deus...quem se põe a
caminho para praticar o bem já se aproxima de Deus, já está sustentado por sua
ajuda, porque é próprio da dinâmica da luz divina iluminar os nossos olhso
quando caminhamos para a plenitude do amor.”(p.48)
“A Teologia não é apenas palavra sobre Deus, mas antes de
tudo, acolhimento e busca de uma compreensão mais profunda da palavra que Deus
nos dirige.”(p.49)
“A Teologia esteja ao serviço da fé dos cristãos, vise
humildemente preservar e aprofundar o crer de todos...”(p.50)
“Quem se abriu ao amor de Deus, acolheu a sua voz e recebeu
a sua luz não pode guardar esse dom para si mesmo...”(p.51)
“A luz de Jesus brilha no rosto dos cristãos como em espelho
e assim se difunde chegando até nós, para que também nós possamos participar
desta visão e refletir para outros...”(p.52)
“É impossível crer sozinhos. A f[e não é só uma opção
individual...mas abre-se ao nós” (p.53)
“Quem recebe a fé descobre que os espaços do próprio eu se
alrgam, gerando-se nele novas relações que enriquecem a vida.”(p.54)
“Aquilo que foi transmitido pelos apóstolos abrange tudo o que
contribui para a vida santa do povo de Deus e aumento de sua fé e assim a
Igreja na sua doutrina, vida e culto perpetua e transmite a todas as
gerações...”(p.55)
“O despertar da fé passa pelo despertar de um novo sentido
sacramental na vida do homem ...”(p.56)
“No Batismo a água é simultaneamente símbolo de morte que
nos convida a passar pela conversão do eu tendo em vista a sua abertura a um Eu
maior” (p.57)
“A ação de Cristo toca-nos na nossa realidade pessoal transformando-nos
radicalmente e assim modifica todas as nossas relações.”(p.58)
“Os pais são chamados a não só gerar filhos para a vida, mas
a levá-los para Deus.”(p.59)
“A natureza sacramental da fé encontra a sua máxima
expressão na Eucaristia. Este alimento precioso da fé.”(p.60)
“O Credo contém uma confissão cristológica: repassam-se os
mistérios da vida de Jesus até sua morte, ressurreição e ascensão ao céu, na
esperança de sua vinda final na glória.”(p61)
“É importante a ligação entre a fé o Decálogo...que não é um conjunto de preceitos
negativos mas sim indicações concretas para sair do deserto do eu
autorreferencial, fechado em si mesmo e entrar no diálogo com Deus, deixando-se
abraçar pela sua misericórdia.”(p.62)
“na oração do Senhor, o Pai Nosso, o cristão aprende a
partilhar a própria experiência espiritual de Cristo e começa a ver com os
olhos Dele.”( p.62)
“Quatro elementos resumem o tesouro da memória que a Igreja
transmite, a confissão de fé, a celebração da Eucaristia, o caminho do
decálogo, a oração.” (P.63)
“A fé é uma porque se dirige a um único Senhor, à vida de
Jesus...”(p.64)
“Cada época pode encontrar pontos da fé mais fáceis ou mais
difíceis de aceitar, por isso é importante vigiar para que se transmita todo o
depósito da fé.”(p.65)
“A fé se mostra universal, católica porque sua luz cresce
para iluminar todo o universo, toda a história.” (p.66)
“O Senhor deu à Igreja o dom da sucessão apostólica. Por seu
intermédio fica garantida a continuidade da memória da Igreja e é possível
beber com certeza na fonte pura donde surge a fé “ (p.67)
“A Carta aos Hebreus põe em relevo um aspecto essencial da
fé, esta não se apresenta apenas como um caminho, mas também como edificação,
preparação de um lugar onde os homens possam habitar uns com os outros.” (p.69)
“Devido precisamente à sua ligação com o amor, a luz da fé
coloca-se ao serviço concreto da justiça, do direito e da paz.”(p.70)
“A luz da fé não serve apenas para construir uma cidade
eterna no além, mas ajuda também a construir nossas sociedades de modo que
caminhem para um futuro de esperança.”(p.71)
“É importante que os pais cultivem práticas de fé comuns nas
famílias, que acompanhem o amadurecimento da fé dos filhos.” (p.72)
“A fé não é refúgio para gente sem coragem, mas a dilatação
da vida: faz descobrir um grande chamado – a vocação do amor. “(p.73)
“Quantos benefícios trouxe o olhar da fé cristã à cidade dos
homens para sua vida em comum! Graças á fé, compreendemos a dignidade única de
cada pessoa, que não era tão evidente no mundo antigo.” (p.74)
“A fé ao revelar-nos o amor de Deus-Criador, faz-nos olhar
com maior respeito para a natureza, fazendo-nos reconhecer nela uma gramática
escrita por Ele e uma habitação que nos foi confiada para ser cultivada e
guardada, ajuda-nos a encontrar modelos de progresso que não se baseiem apenas
na utilidade e no lucro, mas considerem a criação como dom, do qual todos somos
devedores.” (p.75)
“Se tirarmos a fé em Deus das nossas cidades,
enfraquecer-se-a a confiança entre nós, apena o medo nos manterá unidos e a
estabilidade ficará ameaçada.”(p.76)
“O cristão sabe que o sofrimento não pode ser eliminado, mas
pode adquirir um novo sentido.” (p.77)
“A fé não é luz que dissipa todas as nossas trevas, mas
lâmpada que guia os nossos passos na noite e isso basta para o caminho. Ao
homem que sofre Deus não dá um raciocínio que explique tudo, mas oferece a sua
resposta sob a forma de uma presença que o acompanha, de uma história de bem
que se une a cada história de sofrimento para nela abrir uma brecha de luz. Em
Cristo o próprio Deus quis partilhar conosco esta estrada.”(p.78)
“Não deixemos que nos roubem a esperança, e nem permitamos
que seja anulada por soluções e propostas imediatas que nos bloqueiam no
caminho .” (p.79)
“Em Maria, Filha de Sião, tem cumprimento a longa história
de fé do Antigo Testamento.” (p.81)
“na Mãe de Jesus, a fé mostrou-se cheia de fruto e quando
nossa vida espiritual dá fruto, enchemo-nos de alegria, que é o sinal mais
claro da grandeza da fé.” (p.82)
“na concepção virginal de Maria temos um sinal claro da
filiação divina de Cristo: a origem eterna de Cristo está no Pai e por isso
nasce no tempo sem intervenção do homem. Sendo Filho, pode trazer ao mundo um
novo inicio e uma nova luz a plenitude do amor...a verdadeira maternidade de Maria
garantiu ao Filho de Deus uma verdadeira história humana, uma verdadeira carne
na qual morrerá na cruz e ressuscitará dos mortos. Maria acompanhá-lo-a até a
cruz donde sua maternidade se estenderá a todo discípulo de seu Filho.” (p.83)
“Ajudai ó Mãe, a nossa fé. Abri nosso ouvido à Palavra, para
reconhecermos a voz de Deus e o seu chamado. Despertai em nós o desejo de
seguir seus passos saindo da nossa terra e acolhendo sua promessa. Ajudai-nos a
deixar-nos tocar pelo seu amor, para podermos tocá-lo com a fé. Ajudai-nos a
confiar-nos plenamente a Ele, a crer no seu amor, sobretudo nos momentos de
tribulação e cruz, quando nossa fé é chamada a amadurecer. Semeai na nossa fé a alegria do Ressuscitado.
Recordai-nos que quem crê nunca está sozinho. Ensinai-nos a ver com os olhos de
Jesus para que Ele seja a luz do nosso caminho. E que esta luz da fé cresça
sempre em nós até chegar aquele dia sem ocaso que é o próprio Cristo, vosso Filho,
Nosso Senhor. “ (p.84)